No ano em que completa 50 anos, a Reserva Ecológica do IBGE (RECOR), localizada no Distrito Federal (DF), poderá ser integrada ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).. O IBGE deu início, no ano passado, ao processo de recategorização da área para integrar a Reserva no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000, regulamentado pelo Decreto Nª 4.519, de 13 de dezembro de 2002. O processo está na primeira etapa em tramitação no Ministério do Meio Ambiente e no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em novembro de 2024, dois técnicos do ICMBio visitaram a Reserva e realizaram uma vistoria técnica da área para iniciar o processo de enquadramento da Reserva.
Após estudo técnico do ICMBio para determinar a categoria na qual a Reserva se enquadra, o Ministério do Meio Ambiente realizará análise jurídica. Caso a solicitação seja aprovada, o Ministério elabora uma minuta de decreto para a criação da Unidade, que passa por análise antes de ser sancionada pelo Presidente da República e publicada no Diário Oficial. A partir da publicação, a Reserva do IBGE passará a integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Após se tornar Unidade de Conservação, a Reserva será administrada pelo IBGE em cogestão com o ICMBio, com a responsabilidade de gerenciar o plano de manejo que rege todas as atividades de preservação ambiental. Além disso, essa parceria possibilitará novas oportunidades de investimento na área e o aperfeiçoamento das atividades já desenvolvidas atualmente.
O Superintendente do IBGE em Brasília (SES/DF), Gabriel Antonaccio, pontuou que “a inclusão da RECOR no SNUC proporciona maior respaldo legal para sua proteção. Na prática, isso fortalece as ações de preservação e manejo da área, garantindo a manutenção de seus ecossistemas e biodiversidade, contribuindo para a preservação dos ecossistemas locais e para o avanço do conhecimento científico sobre o bioma Cerrado”.
RECOR recebe pesquisadores e estudantes
Situada na Região Administrativa do Jardim Botânico, a Reserva Ecológica do IBGE é uma área preservada de conservação do cerrado, que tem como um dos principais objetivos a pesquisa científica. Com 1.391,25 hectares e localizada no centro-sul do Distrito Federal a 25 km do centro de Brasília, a Reserva Ecológica do IBGE, que é um centro de pesquisa usado por pesquisadores do Brasil e do mundo, também recebe visita de alunos de escolas e universidades. A Reserva está incluída na Zona de Preservação da Vida Silvestre da Área de Proteção Ambiental das Bacias do Gama e Cabeça de Veado (Apa Gama e Cabeça de Veado – instituída pela Lei Distrital n° 9.417/1986), que inclui o Jardim Botânico de Brasília (JBB), a Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília (UnB) e a ARIE Capetinga-Taquara.
A RECOR abriga diferentes ecossistemas e fornece proteção para as mais de 4 mil espécies, entre elas, 61 espécies ameaçadas de extinção (30 espécies de plantas, sendo 3 cultivadas e 31 espécies de animais) e cerca de 91 espécies endêmicas (espécies que ocorrem em uma determinada região geográfica) do bioma cerrado. E conta com aproximadamente 400 teses já feitas, 800 pesquisas realizadas, além de dezenas de mapas detalhados.
“A Reserva é uma das áreas mais estudadas do Bioma Cerrado e permite à comunidade científica ter um parâmetro de comparação entre o que ocorre dentro de uma área conservada e qual a diferença do que ocorre para uma área não conservada”, reiterou a Analista Ambiental e coordenadora do projeto sobre ecologia e recuperação populacional de Lobelia brasiliensis, Iona’I Ossami.
Em 50 anos, RECOR se consolidou como referência na produção de dados ambientais
Criada em 22 de dezembro de 1975, a Reserva Ecológica do IBGE (RECOR) é uma área protegida de grande relevância científica, sob a gestão do IBGE. A unidade se consolidou como referência na produção de dados ambientais, com foco no fornecimento de subsídios para o planejamento territorial sustentável do bioma cerrado. Desde 1998, a RECOR integra as estações de pesquisa ecológicas de longa duração, que compõem redes nacionais e continentais interligadas à rede internacional ILTER (International Long Term Ecological Research Network).
“Em dezembro, a reserva faz 50 anos. Conseguimos um reconhecimento de instituições de pesquisas e conservação do Brasil e do mundo como uma área de extrema relevância de pesquisa científica no Bioma cerrado. Mais de 500 instituições fizeram parcerias e perto de 40% são internacionais, temos parcerias com o mundo inteiro, em todos os continentes. Alcançamos amplo reconhecimento nacional e internacional da importância da Reserva, que se tornou um ícone para a pesquisa no cerrado por ter permitido a experimentação ecológica. Em 1989 decidimos que iríamos pelo caminho de experimentação ecológica, o que possibilitou a vinda de diversas instituições de pesquisas nacionais e estrangeiras para participar de experimentos, porque era uma oportunidade única de testar hipóteses sobre os fatores estruturantes do Bioma Cerrado em condições controladas”, ressaltou o Gerente da Reserva (GRECOR), Mauro Cesar Lambert.
Projeto Fogo analisou a emissão de gases de efeito estufa
O experimento de maior duração na Reserva foi o projeto Fogo, que, ao longo de 20 anos, permitiu queimadas prescritas e controladas em diferentes áreas. O estudo analisou os impactos do fogo na emissão de gases de efeito estufa, bem como suas consequências para o solo, a fauna e a flora. Os dados obtidos são usados pelo Brasil para monitoramento das mudanças climáticas. Além disso, a Reserva abrigou pesquisas sobre os efeitos da seca prolongada e do excesso de chuvas no Cerrado, além de estudos sobre a agricultura.
Leonardo Bergamini, Gerente da Gerência de Meio Ambiente e Geografia (GMAG/DF), coordena o projeto de monitoramento da fauna de abelhas e explicou que é um trabalho relevante pois “é um grupo muito importante por prestar um serviço ambiental de polinização, elas ajudam na reprodução de plantas para produzir sementes”. Ele explicou, ainda, que “ser recategorizado como unidade do SNUC vai garantir maior proteção para essa área para dar continuidade a todas as pesquisas ecológicas que são desenvolvidas aqui, vai abrir portas com ICMBio e outras instituições que vão ajudar tanto na conservação da área como no desenvolvimento das pesquisas”.
A Superintendência do IBGE no Distrito Federal está diretamente envolvida na administração da RECOR, abrigando em sua sede administrativa diversas gerências, como a Gerência da Reserva Ecológica do IBGE (GRECOR), a Gerência de Geodésia e Cartografia (GGC/DF) e a Gerência de Meio Ambiente e Geografia (GMAG/DF). Essa proximidade facilita a integração das atividades de pesquisa e conservação com as demais ações do IBGE na região. Isso inclui a coordenação de programas de pesquisa ecológica, manutenção da infraestrutura necessária para estudos científicos e implementação de ações de conservação da biodiversidade local.
Herbário tem coleção de plantas do Cerrado
Fundado em 1977, o Herbário IBGE fica localizado na Reserva Ecológica do IBGE e abriga uma coleção de plantas do Cerrado e exemplares de outras regiões. Também abarca algumas coleções de amostras de fungos, madeiras e frutos, totalizando mais de 87 mil exemplares. A Reserva abriga, ainda, a Coleção Zoológica, composta por subcoleções de peixes, insetos, aves e mamíferos, com mais de 12 mil lotes de peixes e 70 mil exemplares de insetos, e constitui uma referência da biodiversidadedo Cerrado.
“A importância do herbário é documentar esses materiais, a gente chama de finalidade precípua. É muito importante ter esses registros, essas coleções são muito valiosas, nem tem preço. Temos todo um protocolo a ser seguido para ter cuidado para não perder o material ao mesmo tempo que nós estamos coletando essas plantas, para enriquecer o nosso acervo. É um trabalho minucioso, mas que é bastante gratificante e gera um grande resultado para a comunidade científica e para políticas públicas”, afirmou a Curadora do Herbário da Reserva Ecológica do IBGE, Marina Fonseca.
O Herbário do IBGE na Reserva participou do projeto Reflora, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O projeto fotografou toda a coleçãode mais de 87 mil exsicatas (amostras de planta). “Nosso Herbário está todo informatizado, com fotos, e isso é ótimo porque antigamente, quando não havia esses recursos, os cientistas, taxonomistas e pesquisadores tinham que deslocar de onde estivessem para analisar e realizar suas pesquisas”, explicou a curadora do Herbário.
Um dos projetos desenvolvidos pela equipe da RECOR e parceiros é o estudo sobre a Lobelia brasiliensis, uma espécie endêmica do Distrito Federal. “A gente está estudando a dinâmica da população de Lobelia brasiliensis que ocorre na Reserva para entender uma espécie que ainda é pouco estudada, uma espécie rara, que tem um grande potencial ornamental. Elas estão mais ameaçadas, dentre outros fatores, devido às mudanças climáticas, que afetam em especial as áreas úmidas onde está espécie ocorre, então é importante a gente direcionar esforços para as espécies que ocorrem nessas áreas também”, explicou a coordenadora do projeto, Iona’i Moura.
Recentemente, foi descoberta uma nova espécie, a Paepalanthus fonsecae, da família Eriocaulaceae, nomeada em homenagem a Marina Fonseca, curadora do Herbário IBGE, que foi a primeira a coletá-la em 2018, durante uma expedição ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A descoberta foi reconhecida como nova após análise de botânicos e estudos subsequentes. Localizada no município de Alto Paraíso de Goiás, essa espécie é considerada criticamente ameaçada e conhecida apenas em coleções da região central do Brasil. Sua descrição foi publicada em outubro de 2024 no Nordic Journal of Botany.
Além do Herbário IBGE, na RECOR, o IBGE tem outro herbário localizado no Jardim Botânico de Salvador, conhecido pelo nome Herbário RADAMBRASIL. Os dois herbários integram, também, a Rede Brasileira de Herbários e o Index Herbariorum. Com mais de 52 mil exemplares e coleção diversificada, o Herbário RADAMBRASIL (HRB) foi criado em 1980. O local se destaca por representar a flora das regiões Norte e Nordeste.
Visitas:
Para visitar a Reserva Ecológica do IBGE é necessário solicitar visita e/ou estar inscrito em algum projeto da Reserva. As solicitações são feitas pelo site da Reserva. Cada pesquisador e aluno de graduação ou pós-graduação recebe uma carteirinha para acesso à Reserva válida pelo período do Projeto em vigor.
Fonte: Agência de Notícias – IBGE
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