Mais interessantes são aquelas em que gente de mundos totalmente distintos se une em torno de uma canção ou projeto. Claro que nem sempre a combinação funciona, mas os resultados tendem a ser no mínimo instigantes, como é o caso dos cinco selecionados abaixo.
Veja:
O grande iconoclasta do rock se encontrou com os reis do thrash metal em uma cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame. Lou gostou tanto da química encontrada no palco que chamou o grupo para apoiá-lo em seu novo trabalho: um álbum baseado em duas peças do teatrólogo alemão Frank Wedekind.
O resultado dessa parceria pouco provável foi um disco, para dizer o mínimo, incompreendido. Os fãs da banda não entenderam um trabalho com a sua banda do coração fazendo fundo musical para os vocais praticamente falados de Reed. Já quem gostava de Lou, provavelmente preferiria ouvi-lo com uma banda mais focada no rock and roll básico. O que não se nega é este é um projeto extremamente corajoso para todos envolvidos.
“Lulu” acabou sendo o derradeiro trabalho de Reed – ele morreu dois anos depois de seu lançamento, e o LP segue um ponto de discórdia entre os especialistas. Ainda assim, aos poucos, nota-se que ele está sendo reavaliado. Um grande fã do trabalho era David Bowie. O cantor teve a chance de falar para o próprio Lou, seu amigo de longa data, o quanto tinha gostado dele.
“Lulu” pode não ter vendido muitas cópias para o padrão do Metallica. Por outro lado, ao aparecer no 36° lugar, ele se tornou o disco de Lou Reed que melhor pontuou no top 200 da Billboard desde 1974.
Hoje em dia a união do rock com o hip-hop é das coisas mais comuns que existem. Em 1986 não era assim. O Run DMC em seus primórdios costumava fazer raps em cima da base de “Walk This Way“, o hit setentista do Aerosmith. Foi o produtor Rick Rubin quem sugeriu que eles gravassem uma cover da música e chamassem a banda de Boston para participar.
Segundo a lenda, os rappers só conheciam o riff da música, e nunca a tinham ouvido na íntegra. Quando finalmente a ouviram não acharam a ideia da cover muito boa, mas acabaram convencidos.
Steven Tyler e Joe Perry, a dupla de frente da banda, naquele momento em uma fase de baixa popularidade, também topou participar da gravação.
Quando a música saiu, os fãs do quinteto ficaram horrorizados, mas logo, até eles deram o braço a torcer. A versão explodiu, botando o hip-hop definitivamente no centro do cenário pop.
Além de gerar um clipe inesquecível, “Walk This Way”, ajudou a ressuscitar a carreira do Aerosmith que viria a se tornar nos anos seguintes, uma das maiores bandas do mundo, com um público totalmente renovado.
Lady Gaga e Tony Bennett (2014 e 2021)
Astros do pop e do rock sempre gostam de mostrar uma certa sofisticação, cantando de vez em quando algum clássico do cancioneiro norte-americano. Geralmente, esse interesse não vai muito além de uma participação especial, uma gravação para a trilha de um filme ou série ou uma performance em alguma premiação.
Com Lady Gaga não foi assim. No auge do sucesso, ela optou por se juntar ao veteraníssimo Tony Bennett em um LP contendo apenas grandes standards.
O resultado poderia não ter dado certo, artística ou comercialmente, mas não foi isso o que se viu. Com “Cheek To Cheek” (2014) Gaga provou de vez que era uma cantora extremamente talentosa e Bennett, com 88 anos, e a voz ainda em forma, mesmo que longe do seu auge, se tornou a pessoa mais velha a colocar um álbum no topo da parada dos EUA.
Em 2021, com Tony já bastante debilitado, eles repetiram a dose com “Love For Sale”, um trabalho igualmente bonito, mesmo que sem a força do trabalho original.
Nick Cave e Kylie Minogue (1996)
Nos anos 90, Kylie ainda era uma espécie de princesinha do pop, uma artista que podia vender muitos discos, mas não tinha muita credibilidade. Nick Cave era o seu exato oposto: uma unanimidade entre os críticos e público mais exigente, mas nem de longe um grande vendedor de álbuns.
Em 1996, Nick lançou “Murder Ballads”, um álbum, como título diz, todo dedicado às canções de assassinato, um formato de música folk com origens no século 17.
O cantor disse que escreveu “Where The Wild Roses Grow“, uma música bonita e soturna, já pensando em Kylie para cantá-la com ele.
A cantora topou sair de sua zona de conforto e não se arrependeu. A partir dali ela começou a ser vista sob um novo prisma. A canção deu a Nick Cave seu melhor resultado até hoje no ranking de singles do Reino Unido (11° lugar) e lhe garantiu sua primeira aparição no top 10 da parada de álbuns.
Sepultura e Carlinhos Brown (1996)
Com o álbum “Chaos A.D.” (1993), o Sepultura começou a olhar para as suas origens e os ritmos brasileiros, A instrumental “Kaiowas” exemplifica esse momento que seria mais explorado em “Roots”, o trabalho seguinte (1996). Um marco da história do metal, o disco que trazia a banda colaborando com Carlinhos Brown em “Ratamahatta“.
Com letra (quase toda) em português e um ótimo clipe em animação. A parceria entrou em alta rotação na MTV Brasil e conseguiu colocar os brasileiros pela segunda vez no top 30 do Reino Unido (o single chegou ao 23° lugar).
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